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Relações Pai e Filhos e a Psicanálise
A mudança de relações entre pais e filhos é um exemplo típico da expansão geral da democracia. Os pais já não estão muito seguros dos seus direitos sobre os filhos, os filhos já não sentem que devem respeito aos pais. A virtude da obediência, que era outrora exigida sem discussão, passou de moda e com certa razão.
A psicanálise aterrorizou os pais cultos com o medo de causarem, sem querer, mal aos filhos. Se os beijam, podem provocar o complexo de Édipo; se não os beijam, podem provocar crises de ciúmes.
Se os repreendem em qualquer coisa, podem fazer nascer neles o sentimento do pecado; se não o fazem, os filhos adquirem hábitos que os pais consideram indesejáveis.
Quando vêem as crianças a chupar no polegar, tiram disso toda a espécie de conclusões terríveis, mas não sabem o que fazer para o evitar. O uso dos direitos dos pais que era antigamente uma manifestação triunfante da autoridade, tornou-se tímido, receoso e cheio de escrúpulos.
Perderam-se as antigas alegrias simples e isto é tanto mais grave quanto é certo que, devido à nova liberdade das mulheres solteiras, a mãe tem de fazer muito mais sacrifícios do que antigamente ao optar pela maternidade.
Nessas circunstâncias, as mães conscienciosas exigem muito pouco dos filhos e as mães pouco conscienciosas exigem demasiado. Umas reprimem a sua afeição natural e mostram-se reservadas, as outras procuram nos filhos uma compensação das alegrias a que tiveram de renunciar.
No primeiro caso, impede-se o desenvolvimento da afetividade das crianças, no segundo estimula-se em excesso. Em nenhum dos dois, porém, há essa felicidade simples e natural que é o melhor que a vida de família pode proporcionar.
Em face de todas estas dificuldades, é de admirar que a natalidade decline?
Bertrand Russell, in 'A Conquista da Felicidade'
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