Certo dia, um menino de poucos anos achava-se diante de uma moradia humilde, contemplando uma garrafa que tinha entre as mãos e murmurando: "Estarão dentro desta garrafa os sapatos, como disse mamãe?"
Por fim, depois de dar muitas voltas, tomou uma pedra e quebrou-a. Ao ver que não tinha nada dentro, espantado do que acabava de fazer, atirou-se ao solo e começou a chorar de tal maneira, que não ouviu os passos de alguém que se aproximava. Então ouviu uma voz que lhe perguntou com acento severo;
Que aconteceu?
Ao ouvi-la, o pequeno levantou o rosto assustado. Era seu pai.
– Quem quebrou a garrafa? – perguntou o homem de mau humor.
– Fui eu! – exclamou o menino quase afogado pelas lágrimas.
– E por que você a quebrou?
O menino fitou com surpresa seu pai. É que na voz do menino havia algo a que o pai não estava acostumado; algo de compaixão que havia sentido, quiçá pela primeira vez, ao ver aquele pobre ser inocente e débil, dobrado quase pela desolação sobre os restos da garrafa.
– Eu queria – murmurou o menino – ver se havia dentro um par de sapatos novos... porque os meus estão velhos e mamãe não pode comprar...
– Quem disse a você que havia sapatos nessa garrafa?
– A mamãe!... Sempre que lhe peço que me compre sapatos, ela diz que meus sapatos, minha roupa, e muitas outras coisas estão no fundo de uma garrafa... e eu queria ver se era certo... Mas não farei mais.
– Está bem, filhinho – disse o pai, pondo a mão sobre os cabelos encaracolados do menino.
Alguns dias mais tarde, o pai entregou ao menino um pacotinho dizendo-lhe que o abrisse. Ao abri-lo o menino lançou um grito de alegria.
– Sapatos novos! – exclamou: – Estavam dentro da garrafa?
– Não, meu filho – respondeu o pai com doçura. Antes todas as coisas iam perder-se no fundo da garrafa. As que deixei nelas será difícil tirá-las, porém, com a ajuda de Deus, não voltarei a deixar nada futuramente.
Fonte: Escolhido.
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